segunda-feira, 3 de junho de 2013

Novas espécies de aves descobertas para Amazônia e algumas considerações biogeográficas

Quinze novas espécies de aves são descritas simultaneamente na maior descoberta da ornitologia brasileira em 140 anos.

A iniciativa, que contou com esforços de pesquisadores de instituições nacionais como o Museu de Zoologia da USP (MZUSP), o Museu Paraense Emilio Goeldi (MPEG) e do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), publicará as informações sobre a descrição das características biológicas existentes para cada espécie no volume especial do Handbook of the birds of the world. 

Nova espécie de gralha, gênero Cyanocorax, encontrada
apenas nas campinas próximas a BR-319 e
margem esquerda do rio Madeira.
Atualmente, cerca de 1370 espécies de aves são conhecidas para toda a Amazônia brasileira, e a descoberta reflete um acréscimo em torno de 1% na diversidade da avifauna brasileira. Onze dessas espécies são endêmicas do Brasil, como o canção-da-campina (Figura), que já pode ser considerada ameaçada devido a ocorrência restrita a ambientes específicos (campinas) que estão próximas ao arco do desmatamento.

Uma das questões fundamentais desse resultado se deve à integração do estudo das características morfológicas, de canto e genética das aves, que tem contribuído para a descoberta conclusiva das novas espécies na Amazônia. É comum entre as espécies de aves conhecidas na Amazônia a existência de subespécies, que nada mais são do variações geográficas dentro uma determinada espécie. Em alguns casos, têm se observado divergências em pelo menos duas dessas características entre as subespécies de uma espécie em questão, trazendo à tona a existência de espécies crípticas. Ou seja, uma população que possua uma "cultura" e história evolutiva particular, com cantos, morfologia, comportamento e/ou até mesmo características genéticas únicas compartilhadas apenas por seus indivíduos, tem seu status taxonômico elevado para o de uma espécie.

Áreas de ocorrência das espécies
Além disso, outro fato interessante de se notar é a distribuição geográfica dos novos táxons descobertos. Das 15 espécies, oito ocorrem a oeste do rio Madeira (Figura ao lado), estando dentro da área de endemismo de aves conhecida como Inambari (Figura abaixo, número 4). Outras cinco tem distribuição restrita ao interflúvio Madeira-Tapajós, conhecido também como a área de endemismo de aves Rondônia. As duas espécies restantes ocorrem entre os rios Tapajós e Araguaia, área onde se encontra grande parte da bacia do Xingu, região bastante desmatada.





Figura mostrando as áreas de endemismo de aves na
bacia Amazônica; 1- Napo, 2- Jaú, 3- Guiana, 4- Inambari,
5- Rondônia, 6- Tapajós, 7-Xingu, 8- Belém.

Estudos recentes tem levantado questões sobre a uniformidade dessas duas áreas de endemismo citadas,  onde já se demonstrou padrões de estruturação da diversidade genética e de distribuição de espécies de aves e macacos, respectivamente, relacionados aos rios presentes. Além disso, a região da Amazônia Ocidental, onde se encontra a maior parte das espécies recém descobertas, possui uma história geológica e evolutiva distinta das áreas do Planalto brasileiro e das Guianas, caracterizada por uma dinâmica geológica mais recente e uma avifauna de terra-firme que provavelmente é derivada de grupos presentes nestes planaltos. 

Por fim, esta nova descoberta mostra como a diversidade real existente na Amazônia ainda é subestimada e como algumas regiões são menos conhecidas, levantando questões sobre a importância de se considerar e avaliar a biodiversidade “oculta” e os diversos tipos de ambientes da bacia Amazônica, como as campinas, nos planos de manejo e conservação. Além disso, aumentar os esforços para compreender melhor os limites e a distribuição da diversidade conhecida, com o incentivo de projetos de pesquisa em regiões pouco amostradas como a Amazônia Ocidental brasileira. Desta forma, com o incentivo a expedições em áreas pouco amostradas e a projetos que integrem diferentes ferramentas é provável que o número de espécies conhecidas venha a aumentar ainda mais.

Para mais informações sobre a descoberta das novas espécies de aves da Amazônia leia o artigo publicado na edição deste mês de maio da revista Pesquisa FAPESP. Um ótimo texto de divulgação científica.

Veja as fotos de algumas das novas espécies.










2 comentários:

Saci disse...

Grande notícia! Quantas novas espécies de aves ainda devem existir na Amazônia?

Sara disse...

É uma história muito interessante para descobrir novas espécies. Eu amo animais e estou contente com esta notícia. Eu tenho dois cães e três gatos e eu tenho que comprar remedio para pulgas porque eles pegaram. Beijos