segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Um debate recente na literatura relacionado a análises filogeográficas está baseado no crescente número de estudos envolvendo modelagem de nicho. Com a disponibilização de modelos climáticos do último máximo glacial (LGM) e do último interglacial (LIG) diversos estudos têm tentado estimar a distribuição potencial de espécies Neotropicais nesses dois períodos. O problema é que esses estudos consistentemente mostram distribuições bastante restritas para as espécies das florestas Neotropicais no LGM, mas acontece que as análises filogeográficas desses mesmos grupos, também consistentemente, mostram clados bem definidos com origem anterior ao LGM (que data de apenas 21.000 anos atrás). Ou seja, apesar das alterações drásticas nos padrões de distribuição que teriam ocorrido no LGM, a diversidade que vemos hoje tem origem bem anterior a isso. O que teria gerado a diversidade então, se alterações tão drásticas no LGM não geraram? Ou, mais intrigante ainda, por que essas alterações no LGM não extinguiram grande parte da diversidade existente? O comentário do Townsend Peterson publicado no boletim da International Biogeography Society aborda, entre outras coisas, esse assunto. Talvez alguém se interesse em conduzir uma discussão sobre esse tema??


2 comentários:

Ana L. Tourinho disse...

Oi Sasa,
Eu poderia dar o ponta-pé na discussão desse tema, por ter feito minha tese com modelagem e ser especialista em sistemática.

É claro e consistente que os modelos podem captar o sinal filogenético, e têm um potencial enorme para ajudar a responder questões biogeográficas, pois nos ajudam a predizer e indicar os grupos com maior potencial para as primeiras inspeções do ponto de vista filogenético e molecular, funciona como uma luz norteadora prinicpalmente no caso de grupos megadiversos e com taxonomia mal resolvida, onde nós, sistematas, nem sabemos por onde começar.

Porém, estou com meu tempo fatalmente tomado e sobreposto com inúmeras atividades, e nem participar das reuniões eu consegui. Ao que tudo indica a partir de dezembro eu estou deixando a gerência do PPBio e retornando a pesquisa no departamento de entomologia, e poderei então sugerir e conduzir as discussões nesse tema, caso outra pessoa não o tenha assumido.
Um forte abraço,
Ana

Saci disse...

Parece que a maior parte dos eventos de especiação conhecidos ocorreram antes do Pleistoceno. Contudo, pelo que o Peterson enfatizou, a datação baseada em relógio molecular ainda é grosseira para associar eventos de especiação com eventos climáticos se estes ocorreram em períodos menores que a margem de erro das atuais estimativas moleculares, como alguns eventos do Pleistoceno.

A modelagem de nicho ambiental pode ser aplicada para estimar a paleodistribuição das espécies em momentos diferentes da história, permitindo uma avaliação espacial das inferências filogeográficas. O worldclim (Hijmans et al 2005) atualmente fornece dados apenas para 3 momentos no tempo: 6.000, 21.000 e 135.000 anos atrás, o que pode ser limitante dependendo do caso. Entretanto, se foi possível estimar o paleoclima para esses momentos, creio que em breve nós poderemos contar com mais camadas climáticas em outros períodos, permitindo o teste de hipóteses filogeográficas em diferentes momentos no tempo. No site do worldclim tem um forum de discussão (http://www.worldclim.org/forum), mas não encontrei nada em discussão. Talvez possamos sugerir algumas idéias no futuro.

Se as alterações climáticas no LGM não alteraram muito a distribuição das espécies, aparentemente a Amazônia é uma região que permitiu a diversificação de espécies com baixa taxa de extinção. Mas para onde foram as espécies quando o clima secou no LGM?

Será que a modelagem de nicho ambiental vai permitir estimar a distribuição de ambientes durante períodos anteriores ao Pleistoceno?