O botânico italiano Leon Croizat (1894-1982) é uma figura controversa na história recente da biogeografia. Baseado na metáfora de que "a vida e a Terra evoluem juntas" - que significa que as barreiras geográficas e as biotas coevoluem - Croizat, que trabalhou por muito tempo na Venezuela, desenvolveu uma nova metodologia em biogeografia, a 'Panbiogeografia'. Esse método consiste basicamente em plotar distribuições de organismos em mapas e conectar as áreas de distribuições disjuntas ou localidades de coleta com linhas chamadas 'tracks'. Croizat encontrou que tracks de grupos diferentes e não relacionados muitas vezes eram coincidentes e chamou os tracks comuns a vários grupos de 'generalized tracks', que indicam a pré-existência de biotas ancestrais, que foram fragmentadas simultaneamente por mudanças climáticas ou tectônicas. A originalidade está na idéia de que os organismos dispersam (aumentam suas distribuições) naturalmente e depois se tornam geograficamente isolados por eventos históricos comuns, dando origem ao conceito de vicariância.
Alguns autores, principalmente os que perteciam à escola dispersalista, dominante na época, desprezaram as contribuições de Croizat, considerando-o idiossincrático ou excêntrico. Outros consideram Croizat como um dos pensadores mais originais da biologia comparativa moderna, sendo que suas contribuições colaboraram para a fundação de uma nova síntese entre as ciências da vida e as ciências da Terra. Tendo sido seguida pela sistemática filogenética, a panbiogeografia de Croizat foi central para o desenvolvimento da biogeografia cladista ou biogeografia de vicariância.
Assim, uma ênfase inicial em dispersão sobre uma Terra estável foi substituída por uma idéia de co-evolução entre a biota e uma Terra dinâmica, de modo que a diversificação (origem das espécies) se daria primordialmente por vicariância. Talvez agora a biogeografia esteja se aproximando de um meio termo, que procura entender a complexidade envolvida na evolução de biotas influenciadas tanto por eventos de vicariância quanto de dispersão. Isso só é possível devido à evolução de metodologias capazes de "inferir o passado", reconstruindo a história da vida na Terra de modo cada vez mais preciso.
ps. Para entender melhor esse debate é preciso reconhecer a diferença entre "dispersal" que significa dispersão por longa distância de modo estocástico; e "dispersion" que se refere à expansão das áreas de distribuição dos grupos ao longo do tempo.
Referências:
Parenti, L.R., Ebach, M.C. 2009 Comparative Biogeography: Discovering and Classifying Biogeographical Patterns of a Dynamic Earth (Species and Systematics). Univ. of California Press. Vejam comentários sobre esse livro recém publicado aqui.
Morrone JJ. 2000. Between the taunt and the eulogy: Leon Croizat and the panbiogeography. INTERCIENCIA 25: (1) 41-47.
Alguns autores, principalmente os que perteciam à escola dispersalista, dominante na época, desprezaram as contribuições de Croizat, considerando-o idiossincrático ou excêntrico. Outros consideram Croizat como um dos pensadores mais originais da biologia comparativa moderna, sendo que suas contribuições colaboraram para a fundação de uma nova síntese entre as ciências da vida e as ciências da Terra. Tendo sido seguida pela sistemática filogenética, a panbiogeografia de Croizat foi central para o desenvolvimento da biogeografia cladista ou biogeografia de vicariância.
Assim, uma ênfase inicial em dispersão sobre uma Terra estável foi substituída por uma idéia de co-evolução entre a biota e uma Terra dinâmica, de modo que a diversificação (origem das espécies) se daria primordialmente por vicariância. Talvez agora a biogeografia esteja se aproximando de um meio termo, que procura entender a complexidade envolvida na evolução de biotas influenciadas tanto por eventos de vicariância quanto de dispersão. Isso só é possível devido à evolução de metodologias capazes de "inferir o passado", reconstruindo a história da vida na Terra de modo cada vez mais preciso.
ps. Para entender melhor esse debate é preciso reconhecer a diferença entre "dispersal" que significa dispersão por longa distância de modo estocástico; e "dispersion" que se refere à expansão das áreas de distribuição dos grupos ao longo do tempo.
Referências:
Parenti, L.R., Ebach, M.C. 2009 Comparative Biogeography: Discovering and Classifying Biogeographical Patterns of a Dynamic Earth (Species and Systematics). Univ. of California Press. Vejam comentários sobre esse livro recém publicado aqui.
Morrone JJ. 2000. Between the taunt and the eulogy: Leon Croizat and the panbiogeography. INTERCIENCIA 25: (1) 41-47.
5 comentários:
Olá,
Muito bacana o texto. A diferença entre dispersal e dispersion seria então que a primeira é relacionada a indivíduos em tempo ecológico e a segunda refere-se a população em "tempo evolutivo"?
Olá,
Sim, faz sentido seu raciocínio. Dispersal = long distance dispersal = evento momentâneo e estocástico que envolve um ou poucos indivíduos e leva a um efeito de fundação.
Dispersion = range expansion = expansão da distribuição de uma população ao longo do tempo, não associada a evento de fundação.
Ola,
Mas entao nem sempre dispersion esta relacionada com o tempo evolutivo?
Dando tempo ao tempo, uma espécie de briófita da Africa pode conseguir estabelecer uma pequena população no sul da Bahia (dispersal) e então expandir sua distribuição (dispersion) até o sopé dos Andes e o sul do México, porque os esporos de musguinhos sao espalhados facilmente pelo vento... se isso acontecer, o processo de dispersion ocorreria em tempo ecologico.
Por outro lado, e se o processo de dispersal tiver ocorrido no Plioceno? Avaliar a dispersão em longa distância não seria um enfoque nas populações de um taxon em tempo evolutivo?
Enfim, existe alguma tradução estabelecida para esses termos!?
UM LIXO
UM LEGADO MUITO IMPORTANTE ESSE AUTOR DEIXOU PARA A BIOGEGRAFIA. MUTO LEGAL. PERDÃO PELO COMENTARIO ACIMA, CORRETOR KKKK. NÃO ACHEI AONDE APAGA.
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